"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

segunda-feira, abril 26

Ou você mata, ou você morre


Difícil não é pedir desculpas não. Não enquanto o momento tá ali, em overdose na sua frente. Quando a dor no seu grau maior, te cega de qualquer outra sensação. E você diz: eu sinto muito. Aquelas três mediocres palavras gigantes, pesadas, necrológicas, abrem voo e se perdem com delicadeza em meio a dor. Foi fácil. Qualquer coisa que dissolva a dor é fácil, que disfarce, que desfoque. Se for um sorriso, fácil. Uma lágrima, fácil. Um grito, um vaso quebrado, é fácil. É fácil ver a dor se desfazendo. o que não é fácil, é sentir. É sentir outra vez, reviver. Dobro. As desculpas fazem isso, fazem cultivar aquela ferida que virou um ponto de questionamento, a culpa-não-é-minha-é-nossa, essa dor que não quebra, não dilui. E você quando tem que admitir, dói tanto. Admitir é a dor da certeza. A dor da verdade. Assumir dói, ainda mais quando está distante, ainda mais quando já se cria um enredo todo botando a culpa bem longe de si, fazendo seu signo, ou seu remédio, ou o cara que te xingou no transito naquela manhã ter mais culpa que você. Porque aí, fica fácil. Aí não é dor, é abuso. Inteligente é quem se mente, não quem se mete em situações dolorosas por aí. Que diz o que lhe convém em voz alta e o corpo todo trabalha esculpindo aquela frase, isso é inteligencia. Máquinas são inteligentes, razões são inteligentes. Mas não há quem já vira um dogma sair por aí lamentando qualquer coisa. Queria eu, ter a maneira de me auto-convencer, afinal, o auto convenci não anula um dor futura. A dor dói, o que não dói é o doí. Por isso essa coisa de sofrer sozinho, é como a bolinha de ténis: Você quer mesmo que a dor vá pro outro lado, e torce, torce pra que errem e os pontos venham pra você. Essa dor completa é tão sofrida. Afinal, é uma dor somente sua, não se reparte como a bolinha de frescobol, que quando cai, ambos perdem. Isso de sofrimento unânime é burrice, já que enganar os outros é tão mais fácil, é só maquiar a culpa e entrega-la com fitas de cetim. Pronto, passou sua vez. É fácil enganar os outros, difícil é ser inteligente pra manter-se enganado. Você não sofre por alguém que não faça a dor ser merecida. Complicado. Mas, se você consegue passar marcar um ponto no ténis, o que lhe falta é se preparar para a dor póstuma. Quando morre a desculpa, morre a capacidade de se desculpar e dizer aquelas três palavras gigantes não é tão difícil assim de se dizer. Difícil é mentir pra si, é confiar em si, sem logo, perder essa auto-confiança. Cadê o foco? Ou você mata ou morre. ou a desculpa morre, ou a culpa morre. Ou você mata, ou você morre.

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