"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

quarta-feira, julho 28

Carta


Eu pensava que nunca aconteceria, e você podia jurar que era impossível. Mas não era era. A gente acha que não pode, mas pode, a gente acha que não acontece, mas acontece. E a gente acha que não suporta, mas quer saber, suporta. A gente suporta sim, suporta porque engole tanta coisa seca e amarga ao longo de tudo, que quando se depara com metade de uma certeza, metade de uma dor, metade de um medo, metade de uma escolha, engole. Engole fácil. Porque as metades são sempre mais doces, e são o que sobram das coisas impossíveis. Eu achei, a gente achou, eu errei, você errou. Tanto, que agora não é tão difícil engolir a parte doce das coisas impossíveis. Porque no fundo continua parecendo surreal e desmembrável, pra ser desfeito, fácil e simples como foi feito.
Não vai durar, não vai durar. A gente sempre acha que o nunca, nunca dura. É duro, mas dura, e as vezes dura tanto que a gente esquece o que pode, o que jura, e o que era. É triste mais a gente vai rabiscando novas letras no mesmo papel, as palavras às vezes se repetem, as vezes são escritas com tanta força que o rasgam. Essas vezes doem, mas passam. Passam porque você aprende que quão mais força você põe no papel, mas rápido a ponta do lápis desgasta, desgasta, desgasta, desgasta, desgasta...

sábado, julho 24

Pensar igual


Eu ficava pensando no que dizer quando você viesse me perguntar porque te deixei, e pensei tanto que você não veio. Mas se viesse, eu teria perguntado porque você havia me deixado também, deixado primeiro. Afinal, quem pode dizer quem foi deixado primeiro? Mas o problema é que você não veio e eu não fui. Eu esperei muito até não esperar nada, e quando eu não esperava mais nada, precisava esperar alguma coisa. Sabe o que fiz? Eu esperei de novo, mas dessa vez, quando você visse me perguntando porque eu tinha te deixado, eu diria, diria que te deixei sim, porque não suportava mentiras. E aí, você diria que me deixou porque não suportava mentiras também.
Mas não adiantou esperar, você não veio e eu não fui. Mas a gente não consegue aceitar o fim das coisas, então eu jurava que se ao menos você viesse, mesmo que não perguntasse nada eu diria alguma coisa, diria que não suportava você e suas mentiras, diria em um tom tão neurótico que você acharia que mentiu mesmo, e que merecia. Sabe o que aconteceu? Você não veio, e eu fui, mas fui pra não perguntar nem responder nada, apenas fui porque não tinha mais o que esperar. E foi aí, que você também veio e não perguntou nada e não respondeu nada, simples assim. Falamos de música, falamos de sonhos e falamos de de tanta coisa, que eu nem me lembro se houve alguma mentira. Eu não podia mais ter raiva se você não tivesse, mas também não tinha amor, porque você não tinha, então a gente ficou sem nada, outra vez. Um vazio tão grande que preencheu, minhas e suas ideias, mas ninguém vai esvaziar também, porque a gente não quer um de nós perguntando pro outro responder, nem odiar persistir nas mentiras, porque os dois mentiram igual. Na verdade, a gente não nenhum com nada,nada que já quis um dia, o que queria igual e que não deu certo. Porque, no fundo os dois querem tudo, e, talvez, no fundo do fundo, toda nossa raiva, nossas perguntas e respostas, tenham virado esperança. E a gente não espera mais nada, pra isso tudo ser amor pra sempre.

Todos os seres humanos da terra


Você não me ouve, e acha que eu quem tô errando. Como? Eu falo mesmo, cuspo e xingo. Xingo muito, mas pra te fazer ouvir. E você não ouve, porquê? Porque você só presta atenção quando eu falo baixinho, mas quando você tá sempre certo, grita comigo. E então, eu grito de volta, e a gente se espeta, engalfinha e alfineta até a garganta doer. Aí minha voz fica rouca, e minha garganta arde. Como você quer discutir justo quando estou com as amídalas inflamadas? Só é valido ganhar quando se joga com todas as regras, e eu cansada sussurro que você tá certa, e que errada sou eu. Que tudo o que você diz ta certo, que nada é mentira, e que você não inventa nada, porque esses joguinhos cansam, cansa querer fazer alguém acreditar que é algo que nunca foi. Chega a ser engraçado, eu rio tanto que choro, mas pra sua felicidade, choro de raiva, porque se rir, ainda levo na cara. E você diz que eu preciso de humanidade, mas quantos seres humanos você é pra dizer o que é humanidade? E como pode dizer se eu tenho pouco ou muito dela? Você fala como se fosse todos, mas pra mim, não chega à um. Você não pode ouvir, e grita. Você não pode sabe ser justo e mente. Quando seres humanos você acha que é? Poderia até ser todos, pelo tanto de bocas que parece ter. Mas e as orelhas? Você não ouve, nem se eu dissesse que temos duas orelhas e uma boca, você não sabe ouvir. Eu erro muito, mas erro por mim, pelos meus erros e não por suas fraquezas. E eu xingo baixinho mesmo, e penso em mil respostas que nunca vou dizer mesmo, e se você ouvisse, ficaria sem resposta. Mas isso não é coisa pra você, que me acha tão desumana, mas sou tão humana quanto você, tenho dois braços, duas pernas e um pouco mais de cérebro. Viu? Aprendi com você. Humanidade pra mim é porção gorda de batata frita, coisa você não pede pra comer sozinho, coisa que não é só sua. Enquanto você chama de humanidade qualquer coisa que sozinho você pode dizer o que é. E sozinho, diz o que sou, diz o que eu faço, o que fiz e o que erro. Você acha que sozinho é todos os seres humanos da terra. Mas agora, a mesa é minha, minha porção e meus convidados, eu pago a conta, e você come como eu quiser. Viu? Aprendi com você. E toma cuidade, tô aprendendo.

Voou


Suporta, suporta, segura. Não estava segura do quê, mas suportava. Engolia as palavras como sopa de letrinhas, até que encheu. Grande e gorda. E aí, vazia de todo o resto, voou. Não assoprou balões nem bateu as assas, não pulou de prédios nem correu pra pegar velocidade, e voou. Dá pra acreditar? E quem tanto fazia pra ela explodir, se surpreendeu ao ver. Uniu os lábios, inflou as bochechas. Era tão grande, depois tão pequena, perdida no céu. Quem era agora? Ninguém sabia, não viram mais, ela não voltou.

Destinatário:


Existem pessoas que aos poucos, duram pra sempre.

Liquidação


A vida é como uma liquidação, a gente poupa, poupa, poupa, pra nos últimos segundos, corrermos conta o tempo e os rivais, tentando salvar o que é útil e importante, compensador. Compra muito, não escolhe, não experimenta e não ganha direito à troca. Faz pilhas do que parece inádiavel, e enfia na sacola. Vem defeitos, vem desfeitos, mas o direito de escolher foi perdido. Seu único direito é lamentar, cutucar a mulherzinha que tá com as unhas engafinhadas no que você quer, e pedir ajuda ao mais propício e desinteressado vendedor que só diz ''Espere um pouquinho, espere um pouquinho''. Se ao menos ele soubesse que não temos esse pouquinho de tempo, antes tivera, ou se, ao menos eu soubesse, mas não, o fim te pega de surpresa e não pergunta se seus sapatos estão apertados demais, se você tem um compromisso dali meia hora, ou se esqueceu o bolo no forno. Mas aí quando você passa e se depara com o anúncio convidativo ''50% OFF'' e traduz à si sussurrando ''Sua ultima chance'' não dá pra deixar pra lá, não mesmo, não mais.

Orgulho


Você sabe que ele te ama, mais do que você ama. Você sabe que ele sofre, mais do que você sofre. Você sabe e sempre soube, claro que sabia,e é justamente isso que te faz suportar. Uma dor pior que a sua, um choro mais persistente e menos encobertado, perdido e abafado debaixo do travesseiro. Ele está ausente, mas não é motivo pra não carregar o passado, carrega as fotos, os presentes e os não presentes, fagulhos insignificantes que pra ele significam alvo, ainda significam. uma carta feito correndo num rasgo de saco de pão, um adesivo de caderno, um ban-daid usado. Você sabia que ele juntava tudo e agora os apertava contra o peito, tentando sentir o seu calor ali no meio enquanto sua voz ecoava pelos pensamentos. Pensamentos que sempre foram seus, irrelevante suas tentativas de mudanças, porque a gente não escolhe por quem vai sofrer, por quem vai chorar, por quem vai se doer. E ele pensa que poderia ter sido diferente, se um mísero detalhe fosse evitado, um dia, um fato, mas você sabe que não. Nada evitaria o que era pra acontecer, ele procura saídas pra não amar você, julga mentira, loucura, doença mas ainda lembra, pensa, se comove e tenta. Tenta acreditar que um dia, um dia você vem com seu olhar de piedade, pedindo dele o que ela quer pedir à você. Uma chance pra tentar outra vez, ou pela primeira vez ao menos. Do jeito que ele quer e você quer também, mas que nunca quiseram ao mesmo
tempo. Agora sabem, mas de uma coisa eu sei. Nem todo amor merece perdão, nem todo erro se concerta com o tempo. Não existe segunda chance praquilo que nunca foi feito, e ele, ele não pode ter tudo o que quer.

quinta-feira, julho 22

Only


Não foi o único, mas era o primeiro e último, pra todo o sempre, mesmo sendo infantil demais usar esse termo, eterno. Mas compensava acreditar na felicidade interrupta, na tristeza inexistente, no dia-a-dia sem rotina, no amor sem briga, sem dor. Era puro e inadiável o que ele me fazia querer. Sem luxo, vaidade ou medo. Foi ele, quem conheceu o meu indisvendável, meu impossível e desconhecido verdadeiro eu. A alma, a rosto sem maquiagem, o corpo sem roupa. E era dele, era dominado-patenteado, merecido por ter desvendado, descoberto, aberto e repleto do que eu costumava esconder. Nunca mais pareceu difícil pensar no futuro, nos nomes dos cachorros e filhos, na profissão, no lado da cama em qual deitar. O amor é um tipo de desvendar, descobrir e aceitar, um conhecer sem medo e sem vergonha. Simples, fácil e puro, tão natural como dormir arrumado e acordar despenteado... Necessário, como dormir e acordar.

Ambição


Não é coisa minha, minha também, mas nunca foi só minha. É coisa de gente, de conhecimento, de precisar viver, aprender e entender. O que seria o mundo sem a fraqueza de quem o empurra com a barriga? Impossível sim, porque ser forte, ser fortemente inteligente e entendido, precisa sim de um conhecimento da fraqueza. Do mascar chiclete e se cobrir de maquiagem. Da armadura da alma que é um sutiã com bojo, uma chapinha, um pó compacto. Gente como a gente, precisa de armadura pra alma, de um parceiro que o ame e admirador que o deseje. Alguém que você sabe que sente o que você quer que sinta, seu devido papel. Admiração, fajuta como o desprendimento do material. Ninguém é o que você pensa ser ao conhecer, não com o mesmo brilho ou cheiro. Pessoas vivem falando de sinceridade e espiritualidade, e trabalham meses pra pagar o tão desejado silicone, o nariz empinado, a boca carnuda, a cintura fina. Pouco gente se revolta, mas ninguém se exclui, é coisa de gente, de carro zero e banda famosa. Mas um dia, você murcha, murcha como toda flor mal regada ou vivida demais pra sobreviver, e seca. O brilho evapora, as cores se perdem, os sons, desejos e medos. Cru e esboçado, quente saindo do forno como um bolo sem glacê e confetes. Mas o forno que a gente sai, é a tal temida ambição. Não digo que seja ruim, antes fosse se não julgasse necessária, mas é o fim. Você termina sem chapinha, sem salto alto, sem brilho ou cheiro, sem carro ou fama. E ao seu lado estão aquelas pessoas que não te conheceram por isso. São aqueles que conheciam os medos, pelos, unhas e cabelos desfeitos, da forma que tinha que ser.

terça-feira, julho 20

Eu


Sempre fui mais eu, sempre me achei mais tudo. Mais disso, mais daquilo, um máximo. O espelho, minha obra de arte, grande miséria concertada. Retocada e recalcada, base, blush, brilho. Sempre me amei demais pra amar outra pessoa como à mim mesmo, pra amar outra pessoa mais que eu. Sempre egoísta, sempre narcisista, e, afundado-elevado demais no meu mundinho pra me preocupar com o resto do mundo, com o resto de tudo, o resto do resto, com você.

segunda-feira, julho 19

Parceria

Esses dias encontrei uma moderação no orkut, e me apaixonei pelas comunidades! Propus então de fazermos uma parceria de divulgação, de comunidades com meus textos...

MODERA DÓRA

Vale a pena dar uma olhada!

segunda-feira, julho 12

Solitário


Contente por seu descontentamento, feliz. Procede satisfeito pela sua insatisfação, explícito. Não tinha muita coisa, nunca tivera. Não perto do que cobiçava, seus olhos eram como um novo amor, contente-inocente, mal sabia sua profundidade. Também nunca reclamava, guardava pra si as ofensas que se via merecedor. Doava aos outros, falsas virtudes que eram convencíveis. Convencia e seguia, seu foco era à si próprio, não qualquer outra pessoa do mundo. Ligava sim para o que pensavam à seu respeito, e cuspia ao dizer "Pense o que quiser de mim". Bruto, arrogante. Boiava em suas tardes perdido no seu ego gigante, à noite, caminhava na areia que engolia todo seu oceano. A verdade. Conhecia seus extremos da mentiras, nunca enganou a si mesmo, antes pudera. Era inteligente demais, sabia mais coisas, cantava mais musicas, conhecia mais lugares, provara mais sabores, e, era infeliz. Todas as noites era infeliz, quando a multidão sumira e o deixara de frente à si mesmo. Mas nunca se apavorou, o sol nascia todas as manhãs.

Canal 2


Desligo a tv, o terror mora dentro. Dela, de mim. Difícil então nivelar o medo, o maior medo, o principal. O meu, o nosso. Aquele pelo qual uma nação toda sente, o nosso medo. Ou aquele por qual só eu sei de cór, desconhecido, meu medo. Não dividido, não espalhado, suas soluções, não encontradas. Ligo a tv, qualquer caos que me tire de um caos particular, qualquer cena, medo, tema. Qualquer dor que sufoque a minha, que desvie a atenção e adie o inadiável. Termino a noite, sem dormir, sem sono, sem solução. O caos e sua terrível arte de multiplicação, quantos medos nos cercam, nos ganham. Outro adepto infeliz, procurando cenas tristes em fotos de jornais, figuras medonhas de medos alheios, debates que tudo põe à perder, lamentos e lágrimas. Nunca curado, continua. Se metendo em medos que não são seus, procurando soluções pra si. Instinto ingénuo de proteção, liga a tv e não desliga mais.

domingo, julho 11

A dor de doar


"Significa pureza, pureza e simplicidade." Você dizia e repetia, emendava. Todas as vezes que eu colhia uma flor e sorria ao entregar. Antes eram tão insiguificantes, meu Deus, e agora, eu andava olhando o chão, procurando um vestígio de pureza e simplicdade pra te entregar. E a pureza e a simplicidade eram nossas, dos nossos jardins, todas. Meus e seus. Cada dia uma nova cor, textura, descoberta, toque, cheiro. Éramos jardins da vida, regados à essa perfeição limitada, um jardim farto e cheio de si. Os que estavam de fora, cabia à tristeza da nossa natureza perfeita, suficiente, e, se viam como aquelas flores perdidas e mirradas que brotavam em fendas sozinhas, solitárias e fortes. Sentiam-se fortes, sentiam necessidade da força para sobreviverem. Uma força que eu poupara tanto e tanto tempo, pra agora, doar a você, doar a nós, como uma semente que armazena a força da sua flor, que alimenta, que doa a vida ao brotar. Compreendi agora o novo nome desse milagre: Desgraça. À fenda, ao muro, ao asfalto. Trincados, doados, desiludidos. O verdadeiro invadido ofendido. Chegou procurando forças para sobreviver dentro de mim, dentro de um lugar que sabíamos que não era pra você. E cresceu. Suas forças, tornaram-se bruta, e aquela auto-suficiência que ja fora ego regado. Foi-se então.
Arrancaram-lhe dali, arrancaram-lhe de mim, e desde que te colheram eu me acolho e encolho, nessa minha dor. Nessa dor de doar.

sábado, julho 3

Soleira


A porta está fechada, não adianta bater.
foi trancada, trancafiada à mil chaves.
Não adianta girar a maçaneta.
A luz se apagou.
Pra que espiar por entre suas frestas?

Não há mais o tapete convidativo rente à entrada.
Não se aconchegue.
O chão esfriou. Os pés esfriaram, os joelhos esfriaram.
tornou-se doloroso aguardar.

Não se iluda.
Não compensa.
Não se encolha, nada te acolhe.
Não adianta esperar, não tem ninguém à tua espera.

Engula as lágrimas, poupe teu liquido, poupe teu barulho, brilho.
Ninguém irá te ouvir, ninguém virá te secar.
O frio já mora dentro, não o deixei vir á tona.
A fome não compensa, vá embora.

A dor não te contenta?