"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

domingo, julho 11

A dor de doar


"Significa pureza, pureza e simplicidade." Você dizia e repetia, emendava. Todas as vezes que eu colhia uma flor e sorria ao entregar. Antes eram tão insiguificantes, meu Deus, e agora, eu andava olhando o chão, procurando um vestígio de pureza e simplicdade pra te entregar. E a pureza e a simplicidade eram nossas, dos nossos jardins, todas. Meus e seus. Cada dia uma nova cor, textura, descoberta, toque, cheiro. Éramos jardins da vida, regados à essa perfeição limitada, um jardim farto e cheio de si. Os que estavam de fora, cabia à tristeza da nossa natureza perfeita, suficiente, e, se viam como aquelas flores perdidas e mirradas que brotavam em fendas sozinhas, solitárias e fortes. Sentiam-se fortes, sentiam necessidade da força para sobreviverem. Uma força que eu poupara tanto e tanto tempo, pra agora, doar a você, doar a nós, como uma semente que armazena a força da sua flor, que alimenta, que doa a vida ao brotar. Compreendi agora o novo nome desse milagre: Desgraça. À fenda, ao muro, ao asfalto. Trincados, doados, desiludidos. O verdadeiro invadido ofendido. Chegou procurando forças para sobreviver dentro de mim, dentro de um lugar que sabíamos que não era pra você. E cresceu. Suas forças, tornaram-se bruta, e aquela auto-suficiência que ja fora ego regado. Foi-se então.
Arrancaram-lhe dali, arrancaram-lhe de mim, e desde que te colheram eu me acolho e encolho, nessa minha dor. Nessa dor de doar.

Um comentário:

  1. Quando muito se doa e pouco se ganha, a balança desequilibra e o sentimento cai.
    Texto lindo neném!

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