"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

quinta-feira, abril 15

Só não me beija

ELE: Sabe, é uma madrugada e meia. Longa, dispersa, ocupa tanto minha mente que se torna duas, três. e é fria, daquelas que você deseja um chocolate quente, um par de meias e alguém pra deitar ao seu lado. Alguém pra te esquentar, mas não aquele calor corpo a corpo, sem cobertores separando o essencial. Faz-me falta aquele perto caloroso, a mão entrelaçada, o beijo na testa. Você me liga então, faz propostas engraçadas, mas não faz-me rir de humor. Que vergonha! Questiono enfim, esse querer absurdo, que mesmo sendo reciprocamente desejado no segundo exato, decai tanto na idealização. Eu sinto um amor protetor, um dedo que delineia os cachinhos do cabelo, uma mão que veste o abrigo. E me deparo com a controversa: Das mãos que bagunçam o cabelo. Que chocam, que gritam. Me aqueça! Mas eu visto suas meias, só peço: deixe-me congelar nesse frio.



ELA: Esse querer é tão distante, mas me basta. Me comove suficientemente te ver afofando meu travesseiro, reclamando do sinal da tv, daquele sorriso ligeiro que nasce e morre num piscar de olhos. Aonde está a boca que umidece os lábios? Não, não está aqui. Não são os lábios que mordem, que sugam, que pedem. Essa range os dentes, os trincam de frio, e, queres este frio! Boca e dentes, que não se importam do alface estar grudado na frente... Mas mesmo assim, é tanto querer. Não cabe só em mim, porém, cabe na incerteza, naquele medo do risco, do nada mais ter: então me basta. Não exigo que me ame com o mesmo querer, se peço em orações são segredos! E a você, não convém. É imenso, tão profundo que as vezes nem sei se há mesmo de dividir, duvido que gostaria que também me amasse assim, então fica por ficar, ser por existir. Procuro acreditar que seja melhor assim. Mas, me atende! hoje faz 15 graus. Tenho café, tenho filmes: prometo não denunciar-me com a espessura dos cobertores.

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