"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

domingo, abril 10

Perfume



Acredito que as almas não são feitas de cores, não. Cada alma tem seu cheiro, mas o frasco varia o tempo todo. Acredito também que quando se ama, ama-se pelo perfume. Ama-se pelo gosto. E não pelo esboço que o amor deixa quando passa. A visão se acalma, sequer faz questão de existir. Ama-se pelo escuro, escurinho. ama-se também o que não se vê, sabendo que está lá.

Quando ama, fecha os olhos e respira fundo, com as mãos dando milhoes de voltas no pescoço do outro, os lábios quetinhos e as narinas infladas. Passa-se dias e dias assim, só com o cheiro da pessoa amada.

Cada um tem seu cheiro, e isso é mais seu do que impressão digital. Porque impressão digital, deixa rastros por todo lado, mas o cheiro, ah - O cheiro só se apresenta à quem ama! Quem perde a tarde na rede embaraçando o dedo no cabelo, quem, à cada dia que passa, encontra um sorriso ainda mais lindo na mesma boca, quem dorme de olhos abertos, sendo acariciado por outro olhar dormindo junto. Amor vem de dentro, vem sem forma e se molda como a gente aprende a moldar. As vezes com carinho, as vezes um beliscão. O amor vai se moldando com as mãos. Mãos que se beijam, que se perdem no corpo do outro. Mãos que tem cheiro e vida própria. Enquanto ninguém mais tem.
Amar é dividir uma vida só em dois corpos. Em duas almas. É não ter espaço pra nada mais, nem querer que tenha! Porque te basta fechar os olhos e sentir o cheiro da pessoa amada, e assim viveria pra sempre:

De olhos fechados e narinas infladas!

Ou morreria naquele instante. Viver pra quê?

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