"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

quarta-feira, abril 28

Enquanto ele dorme


Não me importa se você tiver uma casa gigante com milhões de quartos, o que eu quero é uma cama pequena, minúscula, e apenas uma. Uma que obrigue a gente se enroscar pra dormir. Pra sonhar. Pra me sentir completamente feliz por estar lá, e, por não ter hora pra sair daquilo, do nosso mundo. Da nossa cama. Que eu te acorde enquanto me estico, pra você me abraçar de tal forma que me faça dormir outra vez, o dia todo. Onde o tempo não faz diferença, onde não existe horas exatas para estar ali. No nosso mundo. E, quando você definitivamente se cansar de manter os olhos fechados, eu quero ser a primeira imagem que tome conta do seu dia, da sua tarde, da sua vida. Todas as manhas, quando você acordar, quero que me veja ao seu lado, ou, que sinta meu cheiro no travesseiro se eu não estiver ali, e se isso acontecer, que feche os olhos e imagine, como tantos e tantos dias foram. O que eu quero de você, é ser a lembrança mais bonita, ser a melhor companhia, poder fazer você sorrir. Contemplar o teu sorriso. Compartilhar o meu, enroscar com o meu. Quero ser os seus ouvidos, quero que meus ouvidos sejam teus. Quero ser o teu abrigo, o teu colo, o teu calor. Quero que teu braços e abraços me pertençam. Quero sua mão na minha, teu colo no meu, nosso enrosco, nossa confusão. Quero ser ainda, tua harmonia, tua crença, teu ponto de paz. Mas, também a confusão, o teu maior medo, tua dor. Quero ser a única que divida a mesma cama com você, aquela ou qualquer outra em que você deite, em que faça deitar. Quero ser a única a contemplar teu sono, a vigiar teus sonhos, a ver os teus sorrisos, a te fazer sorrir, a sorrir pro seu sorriso, a chorar por tuas lágrimas. Eu quero aquela cama num domingo à tarde, pra compartilhar os meus sonhos, a nomeá-los, dar nomes á nossos filhos, gatos, cachorros, medos. Eu quero ser tua lembrança mais bonita, o final mais triste, a saudade lancinante. Eu quero morar na tua memória e dormir enquanto acordas, e, acordar enquanto dorme. Nos teus sonhos, conscientes e inconscientes, vir á tona, roubar a cena. Que quando sorrir, eu apareça, quando chorar, que eu não vá embora. Quero você dormindo quietinho, pra sempre. Abalando ou não minha vida, pra sempre. Sonhando. Mesmo se eu não estiver mais ali para contemplar, vigiar. Pois certamente eu estarei, em outra cama, maior, dentro dos sonhos de outro alguém, melhor; desejando estar ali, com aquele medo, aquela paz. Abalando o que você nunca deixou de abalar. Enquanto eu durmo.

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