"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

sexta-feira, abril 16

Deixa eu morrer por você


Eu precisava daquele amor doentio, de ligar desesperadamente esperando que me atenda
sabendo que retornaria a ligação quando a notasse. Um amor que exigisse que meu armário fosse renovado, mas que implicasse todas as vezes que eu gastasse cinco centavos, e , fizesse mil caretas enquanto eu provo alguma troca que o agradasse. Um alguém que até despenteado fosse incrivelmente lindo, que o tom de voz me corresse, e que o seu ciúme tomasse conta. Alguém por quem eu não me importaria de carregar as sacolas ou andar apé na chuva, que me fizesse experimentar o sorvete que não gosto, e que mudasse o meu corte de cabelo. Um amor persistente, comandante, possessivo, daqueles que escolhem o filme e não desviam o olhar enquanto observam, ignorando suas milhares de tentativas. Um amor que me usasse, que me consumisse. Alguém que implicasse com todos meus amigos e que ao mesmo tempo, não daria a mínima atenção ás mil provocações que seriam feitas. Alguém pra pedir massagem nas costas e reclamar da minha inexperiência e pedir que tire suas meias. Alguém por quem eu acordaria as madrugadas somente pra preparar um leite quente ou trazer um copo d'agua. Alguém que me negasse beijos, mas que quando os retribuísse, me fizesse pirar com um simples toque, sempre deixando um gosto de quero mais pelo corpo todo. Alguém a quem eu desejasse enquanto durmo, enquanto acordo, escovo os dentes ou escuto uma aula. Alguém por quem eu fizesse loucuras e comprasse flores, alguém que me fizesse brigar por minuciosas e ridículas atitudes. Que, conseguisse acabar com meus vícios, negociando-os com suas obrigações. Que me faria viver com aquele gostinho de quero mais constantemente na boca, um amor que eu choraria por ser só meu, mesmo quando não for, e, que eu esperneie por fingir que é. Mas, que eu me acalme quando esquecer que apenas finjo relembrando do que já me fora feito. um amor que prendesse meus pensamentos, que transformasse meu passado em uma história não minha, deplorável e esquecida. Que me fizesse comer legumes e usar perfume pra dormir que escondesse meu short curto e roubasse os meus livros pra dizer que não prestam. Que deletasse minhas músicas favoritas dizendo que bom mesmo, é ser como ele é. Alguém que se dissesse melhor que todo mundo, e que definitivamente, me convencesse disso. Alguém pra eu sentar numa praça e ouvir qualquer coisa, qualquer frase feita que não se referisse á mim, qualquer conto feliz em que eu não participasse, e ainda sim, fizesse-me feliz pelo simples mover dos seus lábios. Um amor que me castigue, quando eu não merecer ser punido, um amor que me doa, que me arranque pedaços, que me mate em cada briga ou crise. um amor que faça ter febres, dores musculares, ciúmes e desapontamentos, mas que continue fazendo a minha vida depender daquilo. um amor que mude meus móveis de lugar, que faça a cópia das chaves sem autorização, que mude meu nome e dê meu quadro favorito para caridade. um amor que me transforme, manipule, que me faça ser qualquer coisa, que me reinvente, que me crie. Alguém por quem eu esqueça exatamente o que sou agora, exatamente por eu não ter mais aquele alguém, em quem, eu colocava tudo isso em prática.

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