"Para existir grandes escritores, devem existir grandes espectadores também."

sexta-feira, outubro 2

Rascunho



O tempo passa cada vez mais devagar, e enquanto eu me sufoco nas poucas horas que consigo contar, o medo desse pesadelo nunca ter fim me consome, e destrói tudo o que ainda resta. Restos da nossa história. Hoje eu adiciono os poucos pedaços que estão comigo, as lascas dos meus sentimentos. O sangue percorre todas as veias e desagua num vácuo profundo, em um oco obscuro e infindável; espaço que já fora ocupado pelo órgão das emoções, todas aquelas que você dilacerou, com sentidos cruéis e palavras pontudas; me cortou pouco a pouco, até a dor se instalar completamente. Hoje me transformaei nesse resto de um alguém que vivia por você. Rascunhos são a primeira etapa de uma criação, aonde os detalhes não são cabíveis e a obra nunca parece ser o que vai se tornar. Rascunhos são traços errados de um projeto idealizado, primeira etapa do que é certo progredir. Rascunhos humanos são detritos de pessoas que se desintegram dia após dia, rascunhos humanos são as poucas peças de um motor que depois de quebrado, só é útil pra desmanche, peças que agora me faltam, não por desejo ou querer, mas por incapacidade da auto-proteção perante a todos aqueles que não me enxergam como um dia você me viu. Hoje sou o que restou de mim, o que faltou em nós, a parte mais incompleta de um par não real, um meio ímpar; que já não sou nem capaz de me tornar um só. Um meio que já fora dois, dois completo, ponta a ponta. O circulo se fechou, nosso encaixe dispensava qualquer outra ajuda de união; circulo que agora envolve só a mim; e que a todo tempo se fecha, trazendo a paz da inconsciência e da impossibilidade de respirar, o fim é certo; mas mais certo que o fim, só a dor que ainda existe, e me olha com olhos de pena enquanto me enforco nesse circulo que se fecha a cada minuto que na tua mente é entendido que de mim em voce, nada mais restou. Orgulho que brotava pela minha perspicácia hoje soa como tortura; se não fosse dotado da racionalidade ou da capacidade normal que qualquer ser humano possui, talves não sentiria tanto; me isolando em um mundo em que você nunca poderia ter tocado; como um cúpula de vidro que envolve a peça de barro. Crua, barata e comum. a mesma que por alguns instantes foi cobiça em seus olhos, e agora vira deboche para todos que notam o detrito humano que me tornei. A cúpula despertou desejo, e depois de aberta, a possibilidade de um fim fácil acompanhado de gozo por alguém como você; desproteção e apenas um toque para que as forçar gravitacionais me puxassem para o meu lugar, aquele que você via desde o inicio: o fim. Quando todos os caminhos te empurram para o chão, aceite. Ali, e nada mais que aquilo, é o seu verdadeiro lugar.

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